A discordância honesta e respeitosa, a discussão aberta e franca onde o diálogo prevalece está em falta no país, nos ambientes profissionais, sociais e familiares e isso gera perdas incalculáveis para a sociedade como um todo.
Há enorme escassez de exemplos positivos do que significa civilidade e inteligência em ação. Nas entrevistas e programas de debates televisados, mas também nas salas de reunião da maioria das organizações por onde passo.
Há quanto tempo você não vê acontecer ou não participa de um bom diálogo?
O que marca um diálogo assim qualificado?
Atitudes como ..... “um fala, o outro o escuta verdadeiramente, ou seja, abre espaço para os argumentos; as perguntas feitas buscam apenas tentar entender em profundidade e clareza o ponto de vista apresentado; não se interrompe a explanação antes que fique clara a lógica que embasa o raciocínio, permitindo que seja livre ao outro seu direito de falar o que pensa, o que sente, o que enxerga ...”
Quando esta escuta ativa acontece, o que primeiro ouviu assume sua vez de exerces o seu direito de também falar, colocando a sua visão, percepção, opinião, com o cuidado para que suas palavras não desqualifiquem as visões diferentes que acabou de ouvir, mesmo se forem conflitantes.
Há quanto tempo não vemos cenas e não vivemos experiências humanas assim?
Ao contrário, não apenas a mídia parece se deliciar em mostrar, cotidianamente e em horário nobre, contraexemplos disso tudo, fato percebido também nas conversas nos happy hours, onde inexiste troca, mas apenas desabafos e críticas aos que não comungam dos mesmos objetivos, crenças, modelos mentais ou pontos de vista.
E as conversas morrem cada vez mais cedo e esvaziadas de conteúdo e significado.
Sinto, infelizmente, que essa loucura ensandecida dos que se outorgam proprietários da verdade plena e absoluta (portanto única) tem afetado bastante a sensação de que conseguiremos resgatar o respeito, este valor primário e essencial para construção de qualquer relacionamento saudável, na família, no trabalho, na sociedade.
Valor necessário para voltarmos a nos ver como membros de uma mesma condição, a humana, que é miserável em muitos aspectos, mas maravilhosa por inúmeros outros.
Por que é tão difícil, mesmo para quem luta e busca ganhar consciência do valor que o respeito à diversidade possui, entender que, de fato é natural e inevitável pensarmos, sentirmos e nos posicionarmos de forma diferente se somos seres únicos e, portanto, diferentes uns dos outros?
Não é óbvio isso? Não, não é óbvio e isso se evidencia cada vez mais em todos os espaços de convivência, na família, nos grupos de amigos, nos ambientes de trabalho, nas igrejas, nos partidos políticos, clubes ou qualquer outro espaço público ou privado.
Há, me parece, recorrente tendência de respeitarmos apenas o que espelha o que pensamos e acreditamos e, julgarmos e desvalorizarmos tudo e todos que pensam e agem diferente de nós, comportamento que pode levar alguns grupos a níveis inconcebíveis de separação e ódio, como já aconteceu em tristes momentos da história humana.
O crescimento exponencial de doenças psíquicas como depressão, ansiedade e outras, advindas de burnout, desesperança e solidão, falta de sentido no trabalho e na vida, em grande medida frutos de ambientes tóxicos, relações abusivas e outros desequilíbrios estejam no centro desse cenário.
Arrisco pensar que a incapacidade de conviver e aprender sobre o valor das nossas discordâncias e diferenças é causa raiz, se não a única, uma das principais. A intolerância é disfunção que não se restringe apenas à falta de racionalidade. Vai muito além.
Não aceitar discordâncias com o que você vê como verdade e agredir os que a ela se opõem significa, em última análise deixar-se invadir pela doença fatal das certezas e se apropriar do direito de fazer só o que pensa, exigir absoluto respeito a todo e qualquer ato, palavra e decisão tomada e, como se isso não fosse suficiente, permanecer em guerra, desrespeitando todos os demais que não jogam do seu lado.
O que fazer então? Exercitar e viver o VALOR “RESPEITO” que está entre os 5, no máximo 10 maiores desafios de nossa raça e nosso tempo.
Como?
Cada um de nós no seu espaço, público e privado, pouco importa o tamanho dele, começar o treino do respeito.
Respeito a si, exigindo tratamento digno na fila do INSS, do posto de saúde, no trabalho, como cliente, como cidadão, como gente.
Respeito ao outro, ao seu espaço e direito de pensar e agir diferente de você.
Respeito ao nosso país, cidade, família, promovendo diálogo respeitoso em todos os âmbitos para os que dele participarem consigam aproveitar o aprendizado e a inteligência que se ganha quando isso acontece.
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