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José Renato Siqueira Junior

Vivendo e (re)aprendendo a jogar!

O que um fantasy game me fez pensar sobre reconhecimento de desempenhos e meritocracia

Como a maioria dos garotos de minha geração, conheci e aprendi cedo a jogar futebol. Dos 5 até quase os 40 anos, este esporte foi paixão, quase vício. Joguei bola nas escolas onde estudei, com os amigos do bairro e nas empresas por onde passei. Raramente perdia uma partida televisionada e, sempre que possível, lá estava eu torcendo nos estádios.


Um fanático, posso ser merecidamente classificado.


Quando a pandemia parou o campeonato mais importante do país, demorei pouco tempo para perceber que a ausência dos jogos pela televisão em nada havia me afetado. Foi um susto tomar consciência que o desencanto ocupara o espaço, por décadas colorido pela emoção e o prazer de vibrar por um gol do meu time do coração.


Minha cabeça, fazendo seu papel, rapidamente me lembrou de algumas razões que explicam este fato:


o A baixíssima qualidade dos jogos que me fazia dormir antes do término do 1º tempo, na maioria deles.


o O êxodo de talentos, abduzidos pra fora do país, antes mesmo de se tornarem ídolos em seus times de origem.


o E a indignação e o desalento que me toma ao lembrar do volume de dinheiro envolvido nas transações, da remuneração dos que chegam à elite desse mercado de trabalho e, se isso já não bastasse, quando denúncias de corrupção e sonegação de impostos por alguns dos maiores do “mundo da bola” são comprovadas!


Mas, como qualquer humano sou guiado por minha cabeça e razão e também pelo coração e sentimento, entristeci com o adormecimento de minha paixão pelo futebol.

Entretanto, há menos de 3 meses fui convidado a entrar no Cartola FC, um jogo eletrônico de futebol, lançado no Brasil em 2004, no estilo fantasy game que nunca havia me chamado a atenção. Curioso aceitei o convite e, obviamente comecei pela leitura das regras do jogo.


Quase por instinto ou vício profissional foi inevitável, já a partir deste primeiro ato, começar a fazer comparações do que lia a respeito do jogo com o que já vi e vivi no mundo empresarial.


Entender o objetivo a se buscar, quais as leis e processos que norteiam as ações e, principalmente saber o que é necessário acompanhar e quais métricas avaliam os resultados, convenhamos, é o mínimo a se fazer quando iniciamos qualquer nova jornada. Jogo algum se consegue jogar sem conhecer as regras que o regem.


Este princípio vale, ou deveria valer, imagino eu, para qualquer relacionamento profissional, uma relação de emprego, de fornecimento de produtos ou serviços, entre sócios e parceiros.

É quase inacreditável a quantidade de empresas onde já encontrei os “jogadores do time” se esforçando sem terem noção do placar, tampouco das regras e métricas de mensuração dos resultados de cada um e do coletivo do qual fazem parte!


Pronto! O tema me “pegou” -


Resolvi então mergulhar no game e o prazer e a motivação de voltar a acompanhar futebol, agora com outro olhar e sentido, foi resgatado. Adicionalmente, ao fazer isso, ganhei outra satisfação – a de escrever - compartilhando as ideias e insights produzidos com minha experiência no CARTOLA e o mundo da gestão empresarial.

Pra começar, entrar no jogo significou inventar um time, escolher nome, escudo, uniforme. A seguir, contratar técnico e jogadores disponíveis no mercado, definir um esquema tático de jogo e “entrar em campo”.

Até aqui, não é preciso muito esforço para identificar a similaridade com a criação de uma empresa.

Mas, comecei a notar fortes diferenças quando conheci em detalhe os critérios de medição da performance de cada jogador, do técnico e da equipe, no CARTOLA denominado SCOUTS.

A cada rodada, os jogadores recebem pontuações baseadas em suas ações durante as partidas (gols feitos, chutes defendidos, roubadas de bola, faltas cometidas ou sofridas, cartões tomados etc.). Ao final da rodada, o time terá uma pontuação que determinará o seu lugar no campeonato.

Scouts

Pontuação do técnico = média de pontos dos 11 jogadores

O desempenho de um time é fruto da performance de todos os jogadores + a pontuação do técnico


Regras são expressão de VALORES

Ver o que um sistema mede, acompanha e, principalmente RECOMPENSA escancara os princípios e os valores que regem a CULTURA de grupo: a família, a empresa, a própria sociedade.


E QUE VALORES O CARTOLA REVELA?


Meritocracia - Todos times iniciam o campeonato com o mesmo número de “cartoletas” (moeda de troca para a compra dos jogadores) ou seja, com os mesmos recursos. Apenas irão se diferenciando pela performance no decorrer dos jogos. Para mim, TODOS TEREM DE PARTIDA AS MESMAS OPORTUNIDADES E RECURSOS DISPONÍVEIS, é a única forma de não tornar injusto este princípio, em uma sociedade sabidamente desigual.


Equilíbrio no reconhecimento das contribuições – Quem ataca bem (faz gol, dá o passe para que o gol aconteça, chuta na direção do gol) ganha pontos tanto quanto quem defende bem (evita gols, faz desarmes, defende pênaltis).

Equilíbrio no feedback das ações passíveis de punição – A perda de pontos acontece como medida educativa, mas é proporcional a gravidade do desrespeito às regras


Justiça no critério de reconhecimento do valor do técnico - O técnico treina, orienta, prepara, desenvolve e define adequadamente as posições de cada jogador e as estratégias. Mas, quem joga são os jogadores, por isso, sua pontuação vem da média dos esforços e resultados concretos alcançados pela equipe.


Conheci (infelizmente) não poucas empresas que adotam políticas de bônus e premiações apenas para o nível executivo, quando muito aos líderes. Aos demais “jogadores” deixam para a competência negocial dos sindicatos a definição do percentual (em geral irrisório se comparado aos ganhos dos executivos) a distribuir a título de participação nos lucros. Considero estar neste valor a maior diferença entre o Cartola e os sistemas de reconhecimento e recompensa empresariais.


E você? Consegue enxergar outros aspectos de similaridade e diferenciação entre este fantasy game e a realidade nas empresas?


Espero que os pontos levantados produzam boas reflexões, em especial sobre que valores ficam evidentes pela observação dos critérios e princípios balizadores da gestão das pessoas e reconhecimento de suas contribuições para os resultados?


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