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TEMPOS INCOMUNS

Era uma vez há 200 milhões de anos, os mamíferos começaram a surgir no nosso Planeta.



Enquanto a Terra existe há quase 4,5 bilhões de anos, a vida na Terra existe há 3,5 bilhões de anos. Mas não a vida humana. Nossos ancestrais são recentes em 4 milhões de anos. O gênero Homo existe há 2,2 milhões de anos. Evoluiu para o Homo Sapiens (300.000 anos), Homem Sapiens Sapiens (150.000 anos) até chegar ao homem como é hoje que permanece quase que inalterado há 50.000 anos. É neste exato período que as emoções se estabeleceram, sem deixar de levar em conta a longa preparação pretérita.


Mas emoções não são exclusivas do homem. Emoções são programas biológicos que foram se desenvolvendo através de um processo adaptativo da evolução que se iniciou com os mamíferos. São programas internos, subcorticais. À medida em que as situações essenciais da vida se apresentavam, nós desenvolvemos maneiras de lidar rapidamente com estas situações que quase sempre eram INESPERADAS.


Repentinamente a Terra parou e perdemos pontos de referência, há alguns meses. Alguns aproveitaram e fizeram um mergulho na espiritualidade e ainda fizeram uma boa revisão nos seus valores. Como conheci relatos com esta abrangência! Pessoas aprenderam novas habilidades e até se acostumaram com o jeito online de viver. Outros, porém, tiveram mais dificuldades, rigidez mental, problemas financeiros, ansiedade e problemas familiares. Agora no modo híbrido, há uma dicotomia de pensamentos híbridos, que ousaria dizer, antagônicos. Posturas hibridas, universos híbridos, comportamentos híbridos, relacionamentos híbridos...


Situações inesperadas existem e sempre vão existir. Para lidar com estas situações não bastam fórmulas prontas de um preparado pensamento cartesiano. São cenários de dor, de perda, de defesa do território, de fome, de doenças, de segurança, de tutela da liberdade individual e coletiva e ainda não menos importante, de manutenção da espécie.


Ao longo destes 4 milhões de anos, de forma natural, o programa biológico ocorreu de forma automática. Aos poucos surgiu a maturidade do pensamento e também emocional. O homem não pensa conscientemente sobre suas emoções. Mas são elas que lidam incessantemente com as situações inesperadas da vida, dando prova ao mecanismo de defesa: lutar ou fugir.


O que comparo à CONFLITAR ou ESTAGNAR NO CONFLITO. O ser humano é um ser emocional.


Fontes ancestrais de nossa mente emocional identificam em áreas subcorticais, sistemas emocionais humanos bem semelhantes aos sistemas emocionais dos mamíferos. Ou seja, os mamíferos e os seres humanos possuem a mesma base emocional, reagem da mesma maneira. Os tecidos, as moléculas, comportamentos e os neurotransmissores são bem semelhantes. Nosso sistema emocional não é exclusivo do homem sapiens, foi herdado dos mamíferos e vem sendo preparado ao longo de 200 milhões de nãos.


Um destes Sistemas Emocionais Primários é o Sistema Emocional da BUSCA (estudo de Jaak Panksepp). A grande característica neste sistema é a exploração, o movimento para frente, o engajamento com o mundo. O entusiasmo, a curiosidade, o interesse, a missão e a liberdade como conhecemos hoje. É o sistema que fornece a base para todos os outros sistemas emocionais como o cuidado, o medo, a fúria, o jogo, a luxúria e o pânico.


Nestes tempos incomuns, tolher a liberdade não é apenas ferir um direito constitucional alcançado com o árduo estudo acadêmico do homem contemporâneo. É colocar em risco a base dos sistemas emocionais, a proatividade emocional que vem sendo preparada ao longo de 200 milhões de anos. É a busca pela presa e do alimento, é a busca pela água, a busca do novo com entusiasmo, é a interação com outros povos, o desbravar, a curiosidade, a liberdade.


Este sistema da busca é um modo emocional de estar preparado para as intempéries da vida, pois faz parte do ser emocional que hoje é exercido pelo homem de forma consciente. É tão eminentemente natural que ele quis solidificar nas cláusulas pétreas constitucionais.


A evolução adaptativa emocional humana não coaduna com medidas que vão contra ao seu próprio sistema emocional básico da liberdade. É um retrocesso ao progresso, ao criativismo e à própria sanidade em confiar em si mesmo e criar habilidades para saber lidar com as situações adversas da vida como doenças, perdas... O que chamo de habilidades sociais.


É um erro o homem achar que pode controlar suas emoções, assim como pensou que controlava tudo, assim como ainda pensa que pode controlar. Não é natural controlar. É natural estar no campo de batalha adaptado ao seu contexto e saber lidar emocionalmente com as situações nas inesperadas da vida, exercendo sua liberdade com dignidade.



Marivel Duncan

Palestrante/ Trainer


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