O assédio no trabalho sempre esteve presente no cotidiano, e não foi diferente quando as jornadas passaram a ser realizadas de forma online.
O Estado Democrático de Direito assevera, através da Legislação Brasileira, o assédio sexual – “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função” – como crime de um a dois anos de detenção. Mesmo assim, a prática permanece.
Como se não bastasse toda a pressão de ter que se adaptar a um ambiente de trabalho dentro de casa, com distrações, barulhos e responsabilidades simultaneamente sobre os ombros do empregado, o assédio moral soma-se ao sexual por meio de exigências de respostas imediatas sem levar em conta a data ou horário, desrespeitando, além do espaço pessoal, a carga horária do funcionário, que é visto somente como uma peça, sem sentimentos ou valores, para que o dever seja feito.
Outrossim, a saúde mental dos funcionários está sendo diretamente impactada, uma vez que além da situação de distanciamento social, o assédio afeta o psicológico da vítima de forma degradante. De acordo com um artigo do periódico médico JAMA Internal Medicine “Mulheres com história de agressão sexual tiveram chance significativamente maior de sintomas depressivos clinicamente significativos, ansiedade e sono insatisfatório do que mulheres sem essa história”, ou seja, as consequências desses acontecimentos perduram nas vítimas mesmo após anos. É difícil de acreditar que mesmo em um ambiente de teletrabalho esse tipo de situação ainda aconteça com tanta frequência.
Falando sobre a questão econômica, o receio em perder o emprego – principalmente neste momento incomum e repleto de incertezas que estamos vivendo – não deixa com que a vítima denuncie o cenário vulnerável em que se encontra quando um superior direciona a ela comentários ou gestos obscenos, ou mesmo a incomoda em horários inoportunos e fora de seu turno, o que faz com que a situação se torne cada vez mais comum e, infelizmente, seja normalizada no cotidiano de muitos funcionários que tentam, a qualquer custo, manterem seus cargos de forma segura, porém humilhante.
Ademais, a dificuldade para realizar a denúncia também é um fator chave para que os índices diminuam, mas as ocorrências permaneçam frequentes. As provas que presencialmente eram difíceis de serem recolhidas, na modalidade à distância, de mesma forma, raramente são o suficiente para que a justiça seja feita, e isso desanima o indivíduo que foi atingido com a violência do assédio no teletrabalho.
Por isso, cabe as empresas fiscalizarem toda a equipe de funcionários presentes, seja qual for a área ou modalidade em que atuam, incluindo donos e gerentes, aqueles com cargos de grande renome, uma vez que não é justo que alguém sofra de situações e, consequentemente, sequelas que levarão por anos, em razão de uma falta de atenção e organização de superiores. Urge ao Estado que melhore as condições de julgamento desses casos para que a justiça seja feita com aqueles que com suas próprias mãos são incapazes de se defenderem.
Uma equipe de sucesso trabalha em harmonia e respeito, o assédio – de qualquer tipo – não faz parte dessa cultura, por isso deve-se dar a atenção necessária acompanhando e aconselhando os funcionários, para que sintam que têm um suporte e com quem contar em momentos de vulnerabilidade. É assim que uma empresa que se importa trabalha.
Isabelle Apolinário estagiária Gente Mais sob orientação da jornalista Thayná Fogaça.
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